sábado, 17 de dezembro de 2016

Epiceno

minhas bananeiras
bateram em revoada
ao salar 
Atacama

parando o ali
o comendo a vi
onde esparzindo flechas 

viaja orvalho
o bago
de tudo


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Ranço

procura-se hospedagem
caro jacu pesado
finda seu agosto
o céu revira suas almofadas
exalando forte cheiro de roupas de cama
aprofunda os sonhos

assustado
acorda com o próprio ronco
também ornamental
porque dormiu tanto de barriga pra cima?

coisas secas estalando
clareira
e o mamão despencado
Ave cratera teu berço!


Giuseppe Arcimboldo

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Sextante 1973

é a caça
exposta
amiga lança
extinto capim dourado
guizos na galeria

emboscada no canto da moldura
vindo
azul
fedendo a tanque de carpas
urso índigo

alastro
tomba o vento
sobe trópicos
o fogo corre
chupando o Alasca




quarta-feira, 20 de julho de 2016

3 Metros

quarenta anos
e quebra o registro
ligações ininterruptas
HELP
e a água na sua intensa disformidade
leva os cômodos e a sua cintura fina
----------------------------------------------------------- 150cm
por gentileza
sente-se e tome a força habitacional do joelho
a patela, suas munições os quilos
a balança a feira as verduras
-----------------------------------------136cm
um salto pro lado
sementeiras
cruzam atroz
as aves de amianto
devorando as fibras do metro quadrado

willem de kooning



sábado, 28 de maio de 2016

Método para aparar as unhas

cava-se um buraco
passe pela grama
as raízes
os restos de aterro
e depois de brotar um copo d'água
mais umas camadas de couro
vem o fruto
de lá
Reis
toupeiras de nariz estrela
e engôdos
alegram o mármore
de uma terra natal

Toupeira de nariz estrela

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Mastodonte

da horta ;;;` ´´´_ -^~~#@#!! &
um vidro    >>>>  acerta outro>javali
freando lt:&lt^
,<<>>...///Q//-    nos ]|||\\
tacos do      corredor <<
&lt.& 
outra alma revistada]
&gt`&gt~
p-e-n-ada  "" '''££¢** > > ..
daquela atleta
               (..      &gt"
o capacho de ferro
na                          entrada
!!#@**)~<$ #
da cerração

Preguiça gigante e mastodonte que teriam convivido com o homem em Itaboraí

sábado, 16 de abril de 2016

Pesca

espécie: olhado
observa estático o morinete
daí um piau suspenso
no anzol
o seu maremoto
marrom arruinado o rio
seu umbigo de nylon

Franz Kline

quinta-feira, 14 de abril de 2016

sábado, 2 de abril de 2016

quarta-feira, 2 de março de 2016

Sobreposição

resta
a leiteira sobre o fogão
objeto entardecendo
junto as sombras que a seguram

faminto de tempo
a pinça que nos configura
desfruta de um cacho
de avermelhados piões girando
que estouram nos dentes
ponteiro-feroz

o-sentado se vê, rodeado
deslocando veloz para o cabo preso ao alumínio,
inúmeras de suas projeções
esperam com todos os agorasssssssss
a fervura da água

Giácomo Balla (1871-1958)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Escura hoje

daquela pisada
um deriva mais um em falso pro lado
e a via que embute o seu peso de cintura
empurra num deslize o tempo dos sapatos
na medida que o tarol e a baqueta, sincopando,
deixam os dentes tesos
e o seu giro no salão arremata o roer dos pilares

da bela forma
ao traço rarefeito de esquina
os tijolos esverdeiam-se até a poda
e o cheiro manso de trepadeiras
projeta um passeio que é meio duna
meio traste

Juan Gris

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Lance

sabe-se que a mão do pé
não perde uma queda
e que...

entende-se
que a sola da cara
apanha apenas pra ganhar o jogo

a mesa dá os seus afiados dedos
para rolar o dado sob uma esfera
sendo retrátil o piso da cozinha

é daí que se deslancha a sorte
num disparo de blefes
em contido réptil
relance

Os Jogadores, de Caravaggio




domingo, 3 de janeiro de 2016

Apostador

I

um feixe de formas velozes
o galopar de cenas
um cavalo matiz
e um jóquei acrílico

II

o caseiro do sítio
próximo ao regato
pisoteia o chão úmido da mangueira
e pressente

as duas da tarde
desce do jipe
o halo
e um arrepiar de mamangava

tal
segura a tesoura de jardinagem,
desdobra seu tempo
e beterraba o curso d'água

para onde vai a escurecida,
com sua escassez de munheca e prata? _ pergunta o caseiro.

para o fim do pomar,
a parreira ainda cresce paralelo ao barranco
e a sua sombra arqueada permeia um réptil

O joquei Perdido-Magritte