sábado, 27 de dezembro de 2014

el

alpendres dormindo de lado
defunta acarminada
torneira saliva
cifrando
                g L
                  o
                  s   r
                  m   c
                      a

domingo, 30 de novembro de 2014

Poema da série "7 Intromissões"

II

Tem algo de quebra na garganta
que se esconde enviesado
que cheira corte de madeira
e notas
Era uma alegria tão grande
que foi brincar de gangorra num caibro
lençol limpo
num balanço de artéria
e amores

Philip Guston

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

futurível


balaústre atropela vegetal lado a lado sem cabeças
cem degraus

se sobrepondo
cem sombras atropelam
balaústre-vegetal
sem cabeças cem degraus

se
sobrepondo
ou
lado a lado
Vênus
onde foi que perdestes os braços?





domingo, 23 de novembro de 2014

essa é comentada

Poesia

"cometas ao alcance dos dedos 
canções perto do joelho
motoboy metendo o pé na vida"

Comentada por críticos

As canetas andam por aí, mas é passo a passo.
Melhor que seja assim, sem vertigem.
... 
Vou apenas relembrar aquela viagem pra Tóquio em 96,
luzes 
samurais espremidos por metro quadrado ____________________________________________
_________________________________________
_________________________________ aquilo sim, foi uma experiência literária!

Resposta ao escritor lírico

A varejeira e o seu ato de zoar e bater a cabeça sem parar num plano invisível, carrega em si um teor puramente humano. Enquanto ela finge bater as asas, vou recapitulando um ensaio de charcos no jardim de casa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Ensaio de patas

bicho de espanca-diabos
ratazana
de charmosa plumagem
mata-olhos
nascida de bufões
de um preto e branco preso
esmurrado

nenhuma voz
a não ser...
risinhos
e o esbugalho

com todas as lentes
céu parado
ervas gráficas
colapso
torpor

entre a sorte e o disforme
atalhos e trompas
febris e celas
tácito e orquídeas
hematomas
...cegueira...

certo dia passeou até não aguentar mais
ateou seu intento no ar
e ao longe
duas papoulas
duas côrtes dois arranhas céus
dois hálitos distintos
uma planície
um opiário

E assim
entre tablados
corjas aposentadas
e vilões antigos
batizaram-na
de
enguiço

Willem de Kooning





domingo, 2 de novembro de 2014

Ribeirão Vermelho

















beira do rio
uma mancha barrenta sobe
e cerca as canelas

alto da cabeça
apitã plana com o som de uma locomotiva
e um braço acena para o negro pássaro

curso d'água
meninos pulam de uma draga e explodem no verão
ponte descarnada
praia rebordosa
e os olhos fundos espiando

remanso
a respiração desembarca
rumo aos batimentos 
as pedras vibram
oração bucólica

meio do mato
ruínas de uma rotunda
missa quente
febre entre as pernas
e o descanso dela na varanda



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Poema da série "7 Intromissões"

I

corroída por bruxismo
mandíbula e mente
abrem um vitrô
onde inventos verbais lascam os dentes
e nos traem por prazeres mal articulados

Philipe Guston

Poema da série "7 Intromissões"

VII

Morreu de quebra
de marreta pesada
embolou-se  de tosse seca
de cal
tinha cabelo de mola
de obra
passou mal de "fiu fiu"
sentiu um cheiro de esmola
e caiu

Philip Guston

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Tourada

I
Eram os pulsos rasgados pelos vitrais de milenares castelos espanhóis derramando sobre o povo em festa sons, cores e danças o sangue de um bravo touro o sangue de um toureiro herói o sangue da pétala vermelha as veias e artérias vibrando na carne escassa o coração na mão o pulso na mão o segundo florescer

pic. Raisa Faetti

II

Daquela paisagem fresca que construímos agora há pouco Vamos tomar um café no quintal dançando aquele flamenco que ainda ecoa Prenderei essas flores em meu cabelo E você dormirá nele Porque aí ainda existe infância e você pode demorar Depois, satisfeitos na preguiça roubaremos mais flores dormiremos numa rede

domingo, 20 de julho de 2014

Balé dos olhos

I

Nesse bailar
seus brincos vieram no bolso
quando acordei eles floresceram
buganvília pela janela

II

Por ali passava um vento sem nenhuma obrigação

palmeiras

da pequena
invadida
paisagem
a retina

III

Um gramado de sereno, duas figuras, corações, tourada, o regaço dos seus olhos, esmeraldas jades...

Picasso

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pronomes em tratamento

Vossa cabeça de viga
Vossa cabeça de asma
Vossa cabeça de gude
Nossa cabeça no talo

Tua orelha de porco
Tua orelha de átomos
Tua orelha cheia de cuspe
sua orelha no pasto

Tua boca situa
Nua boca no ralo
Sua boca de nichos
Tua boca sem lábil

Seu coração de ripa
Meu coração
diacho

Philip Guston

domingo, 11 de maio de 2014

Para Paula Rego

Um galo dá de comer a um filhote de homem ancorado num poleiro
o sujeito se contorce para receber a coisa ruminada em sua goela

Do lado de fora do galinheiro
uma mulher baforando faz brotar de seu ombro caído
uma víscera paquidérmica
que cresce tão rápida como uma trepadeira vaporosa
subindo pelo ar esguichando um grunhido vermelho

Percebendo a infertilidade dos atos
e sem condições para chamar a atenção
ela  pede em nome do Rabo
um punhal

O pequeno sujeito possui a tal lâmina pendurada no cinto 
e ao suplício da Mulher
ele mira débil,
bem no pomo de adão enrugado do cocoricó
mas lhe falta o seco

Percebendo o hesitar humano
ela blasfema 
e em troco
expõem centenas de seios na praça do parlamento

Esfomeado
ele finge de desentendido
curva-se ainda mais para receber o regurgito
pedregoso daquela ave sem horizonte

Paula Rego

sábado, 12 de abril de 2014

Ato II

Um par de tetas remexendo no lençol
a da esquerda anda meio confusa
e a da direita contrária a tudo
...
hora de acordar
o leite talhou na geladeira
e um furo se fez na parede
revista na laje
dona Sônia-atordoada
faíscas de gatos~elétricos
e o foguetório
...
lá embaixo
um “boi” na escadaria
espumando
costelas salientes
babando em círculos
esquelético
blindado
...
músculo teso
moscas fuzis
chifres projéteis

patas estalando forte sob o chão

_O bicho vai subir!
      Ele é nacional!
_disse um aviãozinho

O puxador da comunidade
e a morena de codinome “Bela Perdida”
tranquilizam os moradores mais afoitos
_Teremos um açougueiro no próximo carnaval!


Favela - António Tapadinhas

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ato I

Nesse ensaio
a dança do acasalamento
só acaba
quando o sujeito
fica tenso

não tem tranco
     preto
     barranco
     ou funil

Na praça
tem uma morena-transpassada
no mata-mata
arrastando as cadeiras
perdendo a vista

um tropeço pra lá
dois caixotes pra cá
escorregando 
catando cavaco
perdendo a ginga
tudo na Rua do Revesso Silva

A roda tá animada
girando fora do eixo
empenada
rangendo as esferas
imunes de graxa de graça
serpenteando lacrimogênio
estourando as vias da lucidez

Claudio Faciolli

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Patíbulo e o Freelancer



Descrição I

… esgarçou a cara-pálida ao meio
e
sementes de romã espalharam-se pelo banheiro

No espelho
escrito no vapor:

Me peixe,
infâmio!

Descrição II

(…) Na padaria em pleno desjejum
apresuntaram uma velha com três livradas na cabeça
...
depois da manchete
os motores se arrastam mais ofegantes 
pela cidade ninfomaníaca
...
“Repuxos de um deserto existencial!”
_ bravou um filólogo viajado
perdido lá no Camboja

Descrição III

Não obstante
cabeças rolaram numa fábrica,
mas os operários continuaram trabalhando
sem os quatro sentidos

Na despedida
a secretária de um dentista respeitado
sem a ponta do dedo indicador
toca levemente o pomo de adão
e treme-se toda



Philip Guston