quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pão dormido

Num interior arquitetado
um homem a 100 graus célsius
entorna-se na sala de estar
...

Outra manhã
outro ano
sob uma densa cerração
fruto de uma geada de ranger os dentes

despertava um reflexo pálido no
verniz de um instrumento
meio azul janela cortina

Lá fora
antenas
o fim da rua
os galhos
quase tudo
tragado por um nevoeiro
afogado num meditar profundo

sem pássaros

nenhuma criança nas varandas
nenhum ciclano lavando o carro
dois gatinhos ofuscados dormindo debaixo de um caminhão
um galo distante

No caminho do trabalho
um graveto andando
batendo nas grades das casas médias

O tintilar vibrafônico 
despertou alguns cachorros mimados
correram para as grades
rosnaram
latiram
e o graveto se lançou para dentro de uma construção escura

Mais a frente
uma longa escadaria
relembrando coisas
ex-motocicleta
ex-febre
ex-mulher
...

e de repente
um trope-
                ço num dos degraus

não teve como equilibrar
as lembranças foram batendo se espatifando
espirrando pelo chão
as imagens estourando
esguichando traços tórridos

Jackson Pollock

quinta-feira, 18 de julho de 2013

CApital

Já que o seu salário mínimo
não vai te levar a lugar algum
pelo menos saia do ar

Jean Michel Basquiat


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Dias de Nietzsche em Turim (Júlio Bressane, 2001)


Dias de Nietzsche em Turim, 2001
Direção: Júlio Bressane

Câncer (Glauber Rocha, 1968-1972)


Câncer, 1968-1972
Direção: Glauber Rocha

Matou a família e foi ao cinema (Júlio Bressane, 1969)


Matou a família e foi ao cinema, 1969
Direção: Júlio Bressane

Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969)


Macunaíma, 1969
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
 

Copacabana Mon Amour (Rogério Sganzerla, 1970)


Copacabana Mon Amour, 1970
Direção: Rogério Sganzerla

Eu sei que vou te amar (Arnaldo Jabor, 1986)



Eu sei que vou te amar, 1986
Direção Arnaldo Jabor
 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Bocarra

Imagino um mambo
onde os passos tropeçam ardentemente
sem ajeito de gola
no embaraço da cabeça ao leito
dente a dente

No embalo do trombone e da conga
ouço um par dançante se chocando
vejo luzes afoitas acendendo e apagando em prédios
e um morro recortado por Gaudí

Peças esparsas no colchão
uma cama-de-gato
somos dois três Mi Sol
um quarto-barato
um mosaico

Uma face vitral
onde o vento
atravessa assoviando uma canção em Dó menor
uma coisa de mal

Eu diria
uma insanidade em partes
ruída nas poucas horas que lhe resta
indiscriminadamente
uma odalisca estilhaçada
que entre as pernas,
troianos e Helenas-loucas
let's dance

A absurda fatalidade
de poder ser espatifado por uma paixão
faz um crivo no peito
onde vaza salsa e coentro

Esse prelúdio pode acabar mal
mas o dorso
o risco
até o tédio
versa
um rabisco inebriante na saída


Antoni Gaudí