terça-feira, 29 de março de 2011

Obra Prima


Paranóia

I

Sua Profissão não presta mais
quinze anos de enfermagem
tomando café com amputações
almoçando com a classe média inflando os seios 
e no jantar, provincianos apodrecendo 
escaras diabetes gangrenas recém-nascidos  

Passa a maioria das noites fumando
e escrevendo artigos
"A Saúde Pública e as suas Mazelas"

Tem um lote de lâminas de bisturi vencidas de 1975
consome depressores
sonega impostos
maltrata prostitutas
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II

Relâmpagos trincam o céu
O velho cavalo no lote baldio 
_é isso...
Ele veste sua jaqueta jeans surrada
calça sua bota
e sai à procura da pior bocada da cidade

Abafada garoa
mãos nos bolsos
vapor homicida esvaindo pelas narinas
ruas de pedras

Na calada da madrugada 
debaixo de um pontilhão
um negro cruza o seu caminho
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III

_Ei, você... não vai dizer "nada"?... _Disse Vlado.
_Tá maluco meu irmão, tu sabe com quem tá falando?! _O negro o encara.
_Não. 
_Não como viados! _O negro cospe com enojado.
_Certo. 
_Ei, antes que eu esqueça...
_Que isso meu irmão!... abaixa essa parada aí! 
_Não precisa me agradecer!...
Dois disparos cravados no tórax
_Aaahh!
_Infeliz...
O enfermeiro de UTI acende outro cigarro e pega o caminho de casa.


Lucas FL.




quinta-feira, 10 de março de 2011

Isqueiro

Você e sua voz arranhada...


perdeu o juízo?
ou acabou...


Quem te viu...


Apenas delírios obscenos...


Queimamos a nossa grana
ateamos fogo em nossas coisas


Deve ter um livro em brasa
ou um cão carbonizado 

domingo, 6 de março de 2011

O sapo-escorpião


Rápida soneca após o almoço (nem tão rápida assim: 1 hora e meia). Sonhei com o sapo-escorpião, um sapo de dimensões normais que tinha no lugar da língua um ferrão de escorpião.


Como se não bastasse, ele possuía nas costas um pequeno compartimento que trazia escondido um sapinho-escorpião, com o mesmo ferrão de escorpião no lugar da língua, mas com um veneno ainda mais letal. Em casos emergenciais, o sapinho saía e atacava também. Depois retornava para sua cavidade nas costas de seu "irmão".


Eu só tinha uma vassoura para matar o sapo-escorpião, que perambulava pelo meu quintal, e sentia claramente que não era o instrumento adequado para enfrentar o bicho peçonhento.


Essa sensação de insegurança e medo dominou o sonho.


(este sonho pode ter tido sua origem num evento banal de outro dia, quando ateei fogo numa minúscula taturana).


Chantal.