quarta-feira, 28 de abril de 2010

Carta de amor p/ Bertalha Coração


De lá pra cá tenho exatamente algumas horas
e por muito menos alguns 
prolixos talheres 

O espaço se fez 
dos lados de qualquer armação 
as colheres que ao pôr-do-sol não previam o sabor,
saturadas de calma
ressoam antigas mordidas

lembrei daquela procissão acesa em seu jeito 
buscava suprir um mal
que ao calar podia descarrilhar qualquer entidade
eram os azes 
e entre um e outro
um infectado jogava cascalho nos trilhos
vacilando a grande maquina

Daqui de cima segue dançando enfermidades lindas da alma 
e alguns canários...
minhas tardes retorcidas de esporas e jugular
  e o leite a talhar entre a janela e a rua

Ontem a Av. Misericórdia com o contorno Esbugalho  
cantaram "Envelhecer sem controle"
Ah meu amor, 
Essas poças!...
 Esse nado ancorado sem você


                                                                     

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Hotel


















Matisse (1869-1954)

janela
o beiral corroído 
a vista corroída
as pernas abertas

lá dentro 
paredes tortas
o chão morto de frio
e os passos soando como um cavalo velho marchando pela noite

hotel sinuoso
estranha mesa,
desmaiado cinzeiro  
cotovelos sul-americanos

sentimento langoroso,
um desconforto forasteiro de duzentos anos

na ponte, neguinhos pedalando suas bicicletas
carros potentes lacerando a madrugada

pizza e o cheiro perfumado da classe média...
a donzela de quatro
o banho
as coxas

Pela manhã 
esqueceu do café que o hotel oferecia
deixou a mulher com as ancas preguiçosas  
 e a presa rangendo