sábado, 25 de dezembro de 2010

Imaculada bonitinha


Passe protetor solar
em suas maçãzinhas aguadas
prontas a atirarem pela culatra

A limpeza dos seus poros
demonstra sua rigidez loura

O seu esposo rico,
um cancro de feio!...
Quando você entrar naquela piscina
com suas coxas a grega
alguns homens do clube
m
          i
j
  a
     r
      ã
      o
na água

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Hypocrisy


Félicien Rops (1833-1898)

Impressão


Aquela moça solteira

atua em câmera lenta
boca e copo

deitada num colchão velho cheio de manchas
assiste um filme
esperando o tempo passar
e o sono bater

uma vez e outra
distrai-se olhando a janela da sala

a existência fantasiosa de um voyeur
encarniça-a

pausa no filme
e ao voltar da cozinha
traz consigo uma garrafa vazia
e sua nudez

num súbito ato
põe-se de quatro
encostando uma das faces no taco de madeira

as nádegas brancas
e um outro lá fora

sábado, 18 de dezembro de 2010

Agro

Não vejo a diferença 
entre matar um porco
e o estupro 

fatalidades

necessidades

domingo, 5 de dezembro de 2010

W.C.


A tensão do mijar
o perambular em direção ao banheiro

A porta emperrada!

O transeunte se joga com o tronco
escancarando aquele plano cinza

Lá de dentro ressoa um grito oxítono

uma cena típica do antigo Cine Glória...

Um travesti espalhafatoso
segurando seu copinho americano
desaguando doce”

sábado, 27 de novembro de 2010

Janela do ônibus


                                                                                      
                                                      

domingo, 14 de novembro de 2010

Merda e Ouro


No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.

PauloLeminski


Merda é veneno.

sábado, 13 de novembro de 2010

Georges Bataille



(...)Fazia calor. Simone colocou o prato num banquinho, instalou-se à minha frente e, sem desviar dos meus olhos, sentou-se e mergulhou a bunda no leite. Por um momento fiquei imóvel, tremendo, o sangue subindo à cabeça, enquanto ela olhava meu pau se erguer na calça. Deitei-me a seus pés. Ela não se mexia; pela primeira vez, vi sua "carne rosa e negra" banhada em leite branco. Permanecemos imóveis por muito tempo,ambos ruborizados.ambos ruborizados.(...)

(...)Lembro-me de um dia em que passeávamos de carro em alta velocidade. Atropelei uma ciclista jovem e bela, cujo pescoço quase foi arrancado pelas rodas. Contemplamos a morta por um bom tempo. O horror e o desespero que exalavam aquelas carnes, em parte repugnantes , em parte delicadas(...)

Monotonia


Por todos os cantos da casa
fios de cabelos espalhados

Nos quartos
calcinhas e cuecas sujas

Os escarros amontoados
no fundo do guarda roupa
e você aí...

debruço

com a lua salpicada de celulite
passando esmalte

Goya


Gravura de Goya

Cigarronia


A percepção 
dose em dose
Todos os dias 
conversas

Vi uma jovem fumando
Era limpa 
rica

A pequena 
O cigarro
A miúda

Eu vi ontem a coisa
Os que olhavam
Estavam perdidos
Ela continuava 
charmosa...

Ontem a noite 
O omisso
Falava 
pensava 
sentado 
pesado


Lucas FL.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Na Lâmina

Varizes
pernas que não são
foram
estão

um vírus
o grito
as traças

o timbre
o fato
vidros em cacos
sinusite

domingo, 26 de setembro de 2010

Fragmento Noturno

Alguma vitalidade pubescente ainda resistia
em meio a ruína precoce.

Um desejo claudicante invade o quarto,
interrompendo o cotidiano pequeno burguês.

Meus pelos eriçados - herança portuguesa - 
Roçam a pele jovem já profanada.

O desvelo revela ranço, atmosfera fétida.

A língua insana busca a rosa pluriaberta drummoniana,
num movimento faminto de sensações sinestésicas

Norambuena

sábado, 28 de agosto de 2010


Deparo-me ineditamente com médicos sem as luvas estéreis
fumando compulsivamente cigarros paraguaios
durante a retirada dos ovários de uma velha búlgara

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Lucian Freud e seu amigo Francis Bacon, 1953.



















"Eu pinto pessoas", disse Freud, "não por causa de como elas são, não exatamente, apesar de como elas são, mas como elas acontecem."

Aos Barões

Uma rua
Um buraco
Ficam sentadas umas pessoas
E eu fico vivendo com elas
E a gente é a paisagem
E os outros olham pra gente
Como se a gente fosse gente
E a gente fica esperando
Uma coisa, uma coisa
Que eu não sei o que.


Lô Borges (1972).

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Depois do expediente














Em dias de exaustão
Todas as coisas são tragáveis,
o amor
um fiasco
um volume consternador entre as pernas

Inúmeras apologias
As rocas mulheres sendo enganadas
o plexo 
repleto de tiras

No carro do pequeno burguês
toda a cidade é lacerada em alaridos
escrachos da vidinha urbana

Depois do trabalho cheio de aleivosias
todos os trabalhadores são pardos 

O patrão
A faxineira
O contador
A secretaria

Misto quente...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Carta I


Wassily Kandinsky
Creio que escrever, para ele, era mais um exercício de autoexperimentação, quem sabe, autoafirmação. Sentia-se mais seguro na terceira pessoa, mais "eu" em outrem, menos contundente nas falhas e mais cônscio de suas virtudes. Talvez isso ocorresse pela dificuldade de se descrever a si próprio, pela incapacidade de dizer algo em voz alta, de se fazer ouvir. Nas palavras, um refúgio. Nos poemas, um grito. Fosse pelo que fosse, era-lhe confortável estar entre letras, mesmo que delas não fizesse o devido proveito ou conseguisse expressar o exato sentimento. De certo, só sabia que seu destino era estar entre elas, sua vontade, viver rodeado por elas e seu medo, perdê-las de vista. Para quem se achava perdido, tinha certezas de sobra. Para quem tinha tantas dúvidas, era inimaginável ter alguma certeza. Por ora, estar perdido era ter um caminho, um apoio, uma saída. Por ora, isso era tudo o que ele podia se oferecer.

Júlio (ponto)

domingo, 20 de junho de 2010

Casamento

                                                                                    
















Há dois cômodos brancos na casa
Que separam duas vidas incomuns
e se fazem presente na estranheza do convívio relutante.


No café, a amargura do gosto quente
Mistura-se com o mau hálito do álcool da véspera
Entre um sussurro e um grito
O ódio queima as vísceras do inimigo.


À tarde, a cópula ainda indesejada
Causa violência estomacal.
O outro fica a observar como bicho faminto
As unhas vermelhas que tocam a vulva.


Sem palavras e muitos ressentimentos,
Impregnado de imagens eróticas
O casal se sacia com a masturbação
E se vê obrigado a partilhar o alimento.


Dani R.F.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cinzeiro

Juntamente com o vento de junho, as pipas perdem-se no plano azul. Ao lado de um pequeno ribeirão, meninos jogam bola na vermelhidão do terreiro. Duas ociosas jovens, as geradoras dos meninos, saem de dentro do barraco frio para tomar o sutil sol das onze. Os pequenos shorts apertados explicitam suas longas pernas negras e expõem seus “arrebitados molejos”. Elas assentam no improvisado banquinho de bloco e tábua, acendem suas biras sonolentas e os seus olhares se perdem. A prosa torna-se mole, e a agoniada espera do marginal é amenizada pelo tabaco. O resto do cigarro se esvai ligeiramente como o vento e as cinzas são levadas para algum lugar.

O neguinho grita gol e a bola atravessa a cerca caindo dentro do ribeirão. Ele se desespera e pula a cerca como um bicho. Sem chinelos, adentra a água cinzenta e fétida e em frenética disparada, corre atrás da redonda. Por sorte consegue pegá-la pelo pequeno fluxo de água no ribeirão. Com a chegada do artilheiro no terreiro, os amigos tapam os achatados narizes e a mãe, ao ver o estado do filho, sai do seu estado de languidez. Enfurecida, vai atrás da cria e agarra o arisco bichinho pela orelha, levando-o até a torneira e ao mesmo tempo que esguincha água nas pernas russas do menino, aproveita para acertá-lo com a mangueira. Os gritos da criança naquele lugar não surte efeito algum. O artilheiro, depois do meio-banho e agora de castigo, assiste da janela do barraco seus amigos na pelada.

A negra ácida volta a coversa mole com a irmã.

sábado, 5 de junho de 2010

Norambuena









Salvador Dali


Em meio ao solilóquio harmônico
De um escritor de Castella,
Algo rompe no espaço
A concentração quase didática
De meu ouvido.

Um ritmo forte num tempo constante
Embalou-me com sua serenidade.
A respiração compassada de meu cão
Derrubou-me do pedestal de minha prepotência,
Igualando-nos à condição de dependentes do oxigênio.

Calou-se o espanhol.
E na sala de estar,
Um acompanhado do outro,
Compartilhamos a solidão da noite
E o elemento vital que nos une
E nos consome.


                          Norambuena.

sábado, 29 de maio de 2010

Bandido da Luz Vermelha

- Frases do filme:


"Quem não pode nada tem mais é que se esculhambar."


Diálogos: Sganzerla, Rogério

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Conto curto


Tem-se, em observação, uma rua quase deserta senão por um casaco marrom e par de jeans que navega por ela. Mente-se, seguindo o rapaz surge também, de pelugem marrom quase descolorida, quatro patas, três compassadas e uma manca.A distância entre os dois diminuía à proporção da desconfiança e, enquanto o homem diluía suas angústias em solvente natural que é o relento de cidade, o cão parecia querer apenas outro ser que lhe acompanhasse por alguns instantes. Talvez fosse fome e frio, por parte do animal, e embriaguez e vazio, por parte do homem. A verdade é que o último não podia sentir-se aliviado. Não que se arrependesse, mas recebia a áspera resposta do nada. Pois bem, era jovem e imortal, haviam os vinhos, o sexo e as melodias, enquanto sua alma era ampla suficiente para sobressair aos erros. O chiado dos sapatos furados compunha melancólica harmonia pincelada pelo gelado silvo do vento e este tema guiava a então formada amizade por algumas ruelas de Santa Cruz. Mesmo que efêmera, a parceria era de cumplicidade suficiente para abrandar a solidão das calçadas sujas às três da madrugada. Com o cheiro de uma mulher no pensamento, o de outra no braço e o do cachorro ao lado, ele seguia sem pressa na companhia do miserável camarada. Há algo de intrigante nos aromas. Não tão direto quanto uma imagem nem tão temporizados como uma música, o olfato pode ofertar as mais amplas e completas sensações. Passam-se uns vinte minutos e exatamente três quadras, o necessário para dispersar a amargura e para que as pernas já reclamassem o cansaço. Em despedida, o comparsa se aproximou, cheirou e lambeu-lhe a mão. Há meia hora atrás, era a umidade de boca feminina que lhe tocava a pele. Trocou olhos azuis, lascivos e maqueados pelo olhar faminto e pidão de um vira-latas. Nunca a idéia de que 'o tempo passa' lhe parecera tão gratificante.

Miguel Chinaski

domingo, 23 de maio de 2010
















No pálido instante em que nada flui,
O fruto doce e libidinoso insinua-se
Ao alcance da mão – espantoso voyeur –
Prometendo imediato deleite ao mais suave toque.
Manso e arredio, até o espírito se embala.


Mas, ao contato com a boca,
Torna-se amargo.


Sejamos bem-vindos à cotidiana expiação,
Privilégio dos homens.
Tudo se torna espectro do que nunca será.


Norambuena.






















Por mais que se esquivasse dos pingos grossos que caíam das beiradas de um ou outro telhado, seu cigarro já estava quase apagado, seus livros agora não estavam valendo mais de 10 reais, e não eram suficientes para comprar uma garrafa de pinga e cigarros por uma semana. Alguém poderia ajudar, mas seu orgulho meia-pataca azedava com qualquer telefonema da mãe oferecendo dinheiro. Aceitava, mas azedava.O emprego no banco bastava para pagar suas dívidas e bancar uns caprichos que tinha. Dizia a si mesmo “Sem caprichos não tem porque trabalhar nessa cidade de merda”. Na verdade há muito já não tinha capricho algum. A pinga e o cigarro eram corriqueiros e agora dos mais vagabundos, mas como era de praxe os vícios sempre eram considerados caprichos, dos quais nunca abria mão, exatamente por chamá-los de caprichos.

                                         Frederico Gomes

sábado, 22 de maio de 2010















Deixa a chuva chover


O mato crescer


e o barco correr nas águas do rio.


                         Antonio Orlando.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Jazz com Morfina
















Entulhos e um espectro de terno
latas enferrujadas
a leveza dos ratos
cama de cigarros

Do outro lado
um avelhantado em salseiro
   morrendo

Diálogos tão pouco existentes
 talvez

Os jazzistas saborearam a heroína no passado
com inversos negros de New York...

Nos cafés
   bundas com celulites desfilaram
com porteiros

E num indeterminado momento
          a França foi domingo
    e as praias o empanado dos seios

Fragmentos Caseiros














Van Gogh

Surto inopinado
antes do alvor.
Gagueira insiste
não há palavras
Ouve-se vozes
de ratos.
O Queijo podre
lança o golpe.


A formiga
na fila eterna
espera o grão
a migalha
a sujeira
e decompõe-se
junto à matéria
orgânica.


No teto
os cupins
devoram
a roupa
a madeira
a carne
os sentidos.
E Proliferam-se.


Também a água
contamina-se
infiltra-se
na parede
no teto
na veia
e faz mofar
o que era belo


Os moveis
no pó.
A roupa
desgastada.
O sapato sujo
e velho
no chão.
O abandono.


A casa
um porão
fede urina
carniça
perde o viço.
Perdem-se
também
os amores.


           Dani R.F.